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Por que eu abandonei o Pentecostalismo?

Por Thiago Ribeiro



"Acredito que o calvinismo não seja o motivo principal pelo qual muitos jovens tem abandonado o pentecostalismo e membrando em igrejas reformadas. Eu não saí da Assembléia de Deus - igreja pela qual eu tive a oportunidade de desenvolver o meu ministério e servir por algum tempo como presbítero - por, na época, estar estudando em um seminário reformado e ter conhecido as Doutrinas da Graça, ou, como muitos chamam, os Cinco Pontos do Calvinismo. Óbvio, que, o calvinismo teve sua influência na visão pelo qual eu passei a olhar para vida cristã como um todo, tanto a ortodoxia quanto a ortopraxia. Não foi pelo fato de crer que a graça é irresistível, que Cristo morreu pela igreja, não por todos os indivíduos no mundo, que a eleição é incondicional e que de maneira alguma um verdadeiro cristão pode perder a salvação que me fez abandonar o pentecostalismo, acredito que esses pontos não são fundamentais para que alguém abandone uma igreja pentecostal, existem pontos mais relevantes para que isso aconteça.


1) TRADIÇÃO ACIMA DA BÍBLIA


Me lembro como se fosse hoje, todos os obreiros e presbíteros deveriam assistir algumas aulas de preparação de obreiros. Um dos temas que estavam sendo ensinados era sobre o batismo com Espírito Santo, onde o pastor auxiliar afirmou que a evidência era o falar em línguas (labaxuria). Após questionar o pastor auxiliar com os textos de 1 Coríntios 12.13 e Efésios 1.13 de que a evidência do batismo não era o falar em línguas, mas que o batismo com Espírito Santo era a união mística com Cristo, ou seja, a conversão genuína do indivíduo, o mesmo mandou que eu abrisse a bíblia em atos 2 para me provar que o batismo com Espírito Santo tinha como evidência o falar em línguas, porém, quando fiz a correta interpretação do texto de atos e mostrei que as línguas faladas pelos discípulos eram línguas estrangeiras, isto é, de outras nacionalidades (At 2.8-11), não estranhas, como ele reivindicava, e apresentei também textos de 1 Coríntios 12, onde Paulo diz que "TODOS foram batizados em um só Espírito"(v.13), mas nem TODOS falavam em línguas (v.30), o mesmo, sem poder argumentar contra os textos, que eram claros, chamou o pastor presidente e a decisão foi que o batismo com Espírito Santo, tendo como evidência o falar em línguas (labaxuria) é uma crença da Assembléia de Deus e que deveria ser aceita por todos os membros. A decisão final não foi a Bíblia, mas o que a tradição da Assembléia de Deus tomou como regra de fé. O SOLA SCRIPTURA estava sendo atacado.


2) INSUFICIÊNCIA DE CRISTO


Participei muito de campanhas de "libertação", onde era necessário uma atitude de fé para que o milagre viesse acontecer, passava semanalmente no famoso "corredor de fogo" e cheguei ao absurdo de beber copinho com água ungida acreditando haver algo espiritual nisso, quando na realidade a única coisa que àquela água poderia fazer era matar a minha sede. Quando percebi que esse tipo de coisa tinha muito mais haver com espiritismo do que com cristianismo fui analisar os textos bíblicos usados por eles: o cego de nascença (Jo 9.1-12); os lenços de Paulo (At 19.11-12); as águas amargas (Ex 15.23-27), entre outros, e o argumento era sempre o mesmo: "Deus trabalhou com simbolismo na Bíblia para que as pessoas exerçam sua fé", vi que não existia nada mais patético que esse argumento! A fé em Cristo não era suficiente, as pessoas eram ensinadas de que precisavam crer em algo mais. Foi então que passei a recusar orar as pessoas que faziam a campanha de 7 semanas, pois, além de não haver nenhum tipo de ensinamento desse tipo deixados por Jesus e os apóstolos, tal atacava a fronte da doutrina da suficiência de Cristo. O SOLUS CHRISTUS estava sendo atacado.


3) SALVAÇÃO POR OBRAS


Fui ensinado domingo após domingo que o "Reino dos céus é tomado a força", que o Cristão deveria se sacrificar, subindo monte, e quanto mais alto fosse melhor era para sua santificação, fazendo caridades, passar horas, e até mesmo dias, jejuando, não ouvir música do "mundo", não ingerir bebidas alcoólicas moderadamente, não isso, não aquilo, era uma lista de regras que levadas ao pé da letra nenhuma alma se salvaria. Passei a questionar que ninguém precisava subir monte para ser mais santo, que Jesus não ordenou que orássemos no monte e nem muito menos que oração de madrugada era mais forte. O que a Bíblia diz é para entrar no nosso quarto, fechar a porta e orar (Mt 6.6), que não existe um horário específico (oração de madrugada) pelo qual deveríamos orar, mas que a oração deve ser sem cessar (1Ts 5.17). Questionei que nenhuma dessas coisas, ainda que cumpridas na íntegra, poderia salvar alguém, mas que apenas Cristo, por meio da fé somente, poderia salvar o pecador, que a salvação é pela graça (Ef 2.8) e qualquer acréscimo era outro tipo de evangelho, era anátema (Gl 1.8-9). O SOLA FIDE e SOLA GRATIA estavam sendo atacados.

Na altura do campeonato o ambiente estava bastante desconfortável pra mim.


4) CULTO AO HOMEM


Como a maioria dos jovens pregadores pentecostais, eu tinha o sonho de pregar no maior evento "missionário" do país, "Os Gideões Missionário da Última Hora" e como referência pregadores como Marcos Feliciano, Abílio Santana e Yossef Akiva - uma desgraça total. Passava horas estudando a Bíblia, lendo livros - ruins por sinal -, orando e Jejuando para pregar, tirando a parte dos livros ruins, não haveria nada de errado estudar, orar e jejuar, isso é um dever de todo pregador, mas a intenção do meu coração não era por um zelo pela glória de Deus, mas imaginava cadeiras "voando", o "fogo descendo", pessoas pulando e dando glórias.


Tudo isso para no final ouvir as pessoas dizendo: "o pregador quebrou tudo". Hoje não tenho dúvidas de que nessa época eu de fato não conhecia o Evangelho e que o meu cristianismo era sem Cristo, uma decadência, apesar de um suposto progresso espiritual. Até que um dia o meu ego foi despedaçado após ouvir uma mensagem pregada pelo pastor Rafael Brito, hoje um grande amigo pelo qual devo muito.


A partir daí passei a olhar o ministério da pregação da Palavra com outros olhos, me tornei um pregador frio para algumas pessoas, pois não tinha mais a pretensão de fazer um show e falar palavras de efeitos que fizessem as pessoas "dar glórias a Deus", mas de apresentar o Cristo crucificado. Deixei de lado as histórias de Moisés, Davi, Elias e os demais personagens do Antigo Testamento (AT) e passei a focar na pessoa e obra de Cristo, não que eu passei agora a desprezar as histórias desses homens, mas a olhar para os eventos do AT tendo como Cristo a chave hermenêutica. Era de Cristo que as Escrituras (AT) falavam e testificavam (Jo 5.39).


A liturgia dos cultos pentecostais passou a ser muito questionada por mim, não imaginava os apóstolos rodando feito loucos e falando uma língua que ninguém entendia. A Bíblia passou a ser a minha regra de fé e prática e nela eu não encontrei um ministério de dança nem mesmo na igreja de Corinto, que era uma desordem só, a igreja pentecostal ao qual eu fazia parte sobrepujou a igreja de Corinto em desordem. As doxologias de Paulo não se parecia nem de longe com as músicas contadas nos cultos, para ser honesto, as únicas vezes que os louvores realmente eram para Deus era quando se cantava os hinos da harpa.


O culto não era para Deus, mas para o homem! Deus era apenas um realizador de sonhos humanistas. O culto era antropocêntrico, tendo como as pessoas do início ao fim centro das atenções. Os cultos faziam com que as pessoas realmente acreditassem ser boas, "jóias raras" "ouro puro de Ofir", e, consequentemente, merecedoras da graça de Deus. Deus para elas era apenas um meio para se obter algo e o prestar um culto, passou a ser ir ao culto. O SOLI DEO GLORIA era a única coisa que não fazia parte daqueles cultos.


O que me fez abandonar o Pentecostalismo em que eu fazia parte não foi o Calvinismo, mas os absurdos cometidos e propagados por algumas igrejas pentecostais. O Calvinismo foi apenas a ponta do iceberg, a Bíblia foi todo o resto."

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1 Comment


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nhac27
Jan 01, 1970

1) TRADIÇÃO ACIMA DA BÍBLIA. Existe isso de forma institucionalizada por meio das Confissões de Fé na tradição reformada. Antes de se tornarem pastores, os seminaristas precisam confessar o que está nas Confissões. Já os pentecostais, desconheço eu, não precisam jurar pela Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Ou seja, o Thiago trocou uma tradição menos institucionalizada por outra mais institucionalizada.

confira: https://monoergon.wordpress.com/2020/09/16/confessionalismo-e-denominacionalismo-vincent-cheung/


2. "tal atacava a fronte da doutrina da suficiência de Cristo". Essa suficiência a que ele se refere é um dos argumentos para não desejarmos os dons espirituais, desobedecendo, por conseguinte, a ordenança de desejar os dons espirituais: "Sigam o amor e desejem com zelo os dons espirituais, principalmente para que vocês possam profetizar" (1 Cor.…


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